Começando uma conversa…
Agora pouco o @institutoakatu perguntou via twitter: “Vc pensa em sustentabilidade qdo compra? Se sim, o q faz?/Sustentável = socialmente justo + $ viável + ecologicamente certo.”
@LuaraFernandez respondeu que: “Faltam mecanismo que possibilitem q o consumidor obtenha, de maneira prática, informações sobre a origem do q consome.”
E nós respondemos que as “maquiagens ecológicas” pioram muito as coisas pro lado consumidor. Aí a Luara perguntou quem fiscaliza essas questões. Obviamente não consegui responder isso pelo twitter.
Enfim, vamos aos fatos (sim, fatos :B):
De quem é a responsabilidade pela fiscalização do nosso querido Greenwashing (a tal da maquiagem verde)?
É não faço ideia uma boa pergunta. Bem, até onde sei os responsáveis pela fiscalização e pela regulamentação das informações que as empresas passam sobre seus produtos são os orgãos de regulamentação de cada área. Ou seja, a Anvisa, por exemplo é responsável por regulamentar e fiscalizar informações a respeito de alimentos e outros produtos relacionados à sua competência (vigilância sanitária). Assim funciona com outros ógãos em suas devidas competências (Ex. O Inmetro pra normas técnicas, etc) . Em geral esses órgãos pertencem ao governo, e as regulamentações tem o peso de leis.
Mas existem algumas variações como as certificações – que não são regras obrigatórias, mas se você seguir ganha a certificação do órgão responsável dizendo que você “segue determinado padrão”. Esses órgãos são responsáveis pela fiscalização das empresas certificadas por eles. Alguns órgãos reconhecidos que emitem certificações ambientais no Brasil são a FSC (relacionada a certificação de madeira), o Sistema ISO (com o ISO 14.000).*
O que complica tudo é que as informações relacionadas a sustentabilidade pertencem a vários setores, logo podem ser responsabilidade de órgãos totalmente diferentes ou de ninguém. Em outras palavras se você quer informações sobre produtos orgânicos pode procurar as normas referentes a esse tipo de produção (sei que elas existem, mas não lembro de quem são). Se está comprando um móvel de madeira pode procurar órgãos ambientais que certifiquem a procedência da madeira. Mas no caso de situações em que o produto em questão não tenha ninguém que certifique ou regulamente, ficamos a mercê de informações publicitárias.* Muitas vezes mentirosas e meramente publicitárias. É aí que entramos nessa terra, que não é sem lei, mas gostaria muito de ser, que são os domínios da publicidade. Há quem defenda a intervenção governamental, criação de leis regulamentadoras, etc. (o caso da publicidade de produtos infantis é ótimo pra entender isso). E a quem defenda firmemente a “liberdade de criação” na publicidade, em geral os publicitários. Ou a tal da auto-regulamentação que eles tanto gostam de falar. Enquanto não se chega a nenhuma conclusão, muitas empresas continuam produzindo absurdos sob um rótulo verde e vendendo mais às custas da ingenuidade e boa vontade dos consumidores. Claro que nem todos são do mal e querem enganar o mundo. Nem mesmo todos os que falam absurdos, acredito que muitas empresas realmente acreditem que estão produzindo coisas “ecológicas” sem estar. Assim como muitos consumidores acham que as estão consumindo.
*O que deixa tudo muito pior é que não temos como ter a mínima segurança de que as pessoas estejam falando a verdade. Isso por vários motivos. 1- Ainda existe muita contradição referente ao impacto (não só ambiental) de muitas coisas. O PVC, por exemplo é abominado em vários países. Organizações reconhecidas como o greenpeace falam muito mal desse material, sobre ser tóxico na fabricação e no uso, entre outras coisas. E nós, brasileiros, usamos PVC pra conduzir água e ainda o vendemos como material totalmente reciclável (o que leva algumas pessoas a acreditar que ele é “sustentável”). Isso por que muitos cientistas defendem o uso do PVC, dizendo que o material absolutamente não é tóxico. Quem está certo? Ou melhor, quem está falando a verdade? O que nos leva ao motivo: 2- Seria muita ingenuidade pensar que as pessoas e empresas deixariam os princípios ambientais à frente dos princípios corporativos. Como dizem, cada um puxa a brasa pra sua sardinha. Um ótimo exemplo é o posicionamento da organização plastivida (financiada pela indústria petro-química) em relação ao consumo de plásticos. Mas ela é só uma num mar de contradições e jogos coorporativos. O motivo 3- diz respeito à difusão alarmantes de informações, digamos, fantasiosas, sobre sustentabilidade. Que é quando as pessoas acham que estão fazendo uma grande coisa pelo meio ambiente ou pela sociedade quando na verdade não estão fazendo NADA, se não piorando as coisas. Nós aqui do sustentabilsimo já escrevemos várias vezes sobre isso. Exemplos clássicos são os dos carros elétricos, que todos veneram e que diminuem muito pouco do impacto produzido por veículos (John Thackara no Livro “Plano B” fala muito bem sobre isso). Ou achar que a recilagem de garrafas PET vai resolver o problema do impacto do consumo exagerado de embalagens (leia aqui pra entender o que achamos disso).
Olhando assim, parece que não temos saída. E de fato as coisas são realmente muito complicadas. Pra conseguir sobreviver no meio de tantas informações, sem ter noção do que é verdade ou somente “maquiagem” só buscando ainda mais informações. Ler a respeito e procurar conhecer informações diversas sobre cada situação ajuda muito a formar uma opinião própria (por mais clichê que seja essa frase :B). Mas, ainda assim teremos que confiar em alguém. Paciência, vivemos em sociedade, e é esse o preço.
O sustentabilismo é um blog de opinião – desses bem chatos que fala mal de todo mundo e ainda acham que é engraçado – e, devo dizer que procurar opiniões alheias pra escrever às respeito tem nos ajudado a ampliar bastante o nosso campo de visão. E já sinto que isso influencia na nossa atuação profissional como designers de produto (todos menos o Caue são designers ou o serão). Bem, o que me resta, pra quem quer saber por que eu escrevi essa baboseira coisa toda, é indicar algumas de nossas referências, né não?
Então vai aí: O Livro “Plano B” do John Thackara é o meu preferido. Ele fala coisas que nem passavam pela minha cabeça ante de conhecê-lo. O Instituto Akatu, que provocou o início dessa conversa é uma das poucas organizações que ainda me parecem confiáveis no que dizem. Mas chega de babação, né?
Ah, eu comecei esse post querendo iniciar uma conversa mas, pra variar, escrevi um pouco demais. Mas ainda quero as suas opiniões.
E então:
DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?
Alguém se habilita? (du-vi-do, vocês nunca respondem os meus posts :~ (
Tags:Consumo, educação ambiental, greenwashing, sustentabilidade, sustentabilismo